Adão Ventura Ferreira dos Reis nasceu em Santo Antônio do Itambé, antigo distrito do Serro/MG, vale do Jequitinhonha, em 5 de julho de 1939. Neto de escravos e trabalhadores de fazenda e de mina, Adão viveu nessa cidade até o início de sua juventude, o que marcou profundamente sua vida e obra. Em seguida, residiu na cidade vizinha do Serro, onde se inicia na literatura, lendo tudo o que lhe caísse nas mãos. Mais tarde, transferiu-se para Belo Horizonte, para onde trouxe, mais tarde, sua família.
Enquanto estudante, trabalhou como revisor do Suplemento Literário do Minas Gerais, órgão oficial do Governo do Estado. Criado em 1966 pelo escritor Murilo Rubião, o Suplemento fez história na cena cultural mineira e abrigou a estreia de muitos autores, inclusive Adão, que, ao lado de Luiz Vilela, Ivan Ângelo, Libério Neves, Sérgio Sant’Ana e Jaime Prado Gouvêa, integraria a chamada “Geração Suplemento”.
Adão Ventura publicou seu primeiro livro – Abrir-se um abutre ou mesmo depois de deduzir dele o azul – em 1970. A obra obteve boa repercussão no meio literário por se tratar de um poema em prosa, marcado pelo fantástico, o que levou muitos críticos a aproximá-lo da herança surrealista.
Em 1971, o autor se diplomou em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Neste mesmo ano, recebeu o “Prêmio Revista Literária da UFMG”, com os poemas “Móveis a) A cama”; no ano de 1972 conquistou o Prêmio Cidade de Belo Horizonte; e, em 1991, o “Prêmio Fundação Cultural do Distrito Federal”, entre outros.
Em 1973, foi convidado a lecionar Literatura Brasileira Contemporânea, na University of New México, nos Estados Unidos. Nesse mesmo ano, participou do Congresso de Escritores Internacionais (International Writing Program) promovido pelo Departamento de Letras da University of Iowa. Este período nos Estados Unidos deu ao poeta contato não apenas com a riquíssima cultura afro-americana – com destaque para o jazz, o blues, a poesia e a ficção de autoria negra, entre outras manifestações –, mas também com a luta pelos direitos civis dos negros estadunidenses.
Tais experiências, como o próprio poeta revelou à época, foram fundamentais para o amadurecimento da sua escrita e como ser humano, o que culminaria na outra fase de sua poesia, com a assunção da afrodescendência. Adão Ventura publicou seis livros de poesia, dentre eles o de maior destaque é A cor da pele, de 1980, por se tratar de escritos que têm como tema as experiências e visões de mundo do homem negro brasileiro. Sobre o livro, Silviano Santiago publicou um ensaio definitivo em Vale quanto pesa, no qual reconhece o valor poético e social da produção literária de Adão Ventura. Um dos poemas – “Negro Forro” – foi selecionado por Ítalo Moriconi para integrar a antologia Os cem melhores poemas do século.
Seus poemas constam de diversas antologias, tanto brasileiras quanto internacionais, sendo traduzidos para várias línguas, entre elas o inglês, o espanhol, o alemão e o húngaro. Foi roteirista e participante do filme Chapada do Norte (1979). Em 1984 recebeu a Insígnia da Inconfidência por méritos relevantes como escritor. Na década de 90, atuou como Juiz Classista, tendo também presidido a Fundação Palmares, cuja atuação, como seu segundo presidente, contribuiu para a consolidação dos valores e da missão dessa fundação.
Adão Ventura faleceu prematuramente, aos 64 anos, no dia 12 de junho de 2004, deixando vários escritos inéditos. Seu acervo, de que constam biblioteca, documentos e objetos pessoais, correspondências, clipagem de notícias de jornais sobre questões raciais, racismo e preconceito, além de rascunhos de poemas e, originais dos livros, foi doado à Universidade Federal de Minas Gerais, e está alocado no Acervo de Escritores Mineiros, do Centro de Estudos Literários e Culturais, junto de outros importantes acervos de escritores mineiros.
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