terça-feira, 25 de junho de 2019


A LITERATURA E O LEITOR DO SÉCULO XXI
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“No Brasil do século XIX não foi possível à maioria dos escritores viver de sua literatura”, afirmam Marisa Lajolo e Regina Zilberman em Formação da leitura no Brasil. Este impedimento é atribuído ao aparecimento tardio da imprensa.
Outros fatos poderiam ser citados aqui neste ensaio, mas o objetivo não é esse. Comparar o que foi a literatura do século XIX e XX ao XXI, torna-se fundamental para compreendermos a falta do leitor contemporâneo. O que de fato mudou? O leitor ou a literatura? Percebemos que antes de tudo, o leitor contemporâneo é um leitor sem tempo para a leitura. Atribuímos também este fato à modernidade. O homem moderno já não tem mais tempo para a leitura. Ou poderia dizer mais: para uma boa leitura, um bom livro. E surge neste contexto a pergunta sobre o que restou para os novos escritores. O que escrever diante deste quadro, desta falta de leitor?
O novo escritor, considerado pós-moderno, já se depara com essa problemática bem antes de começar a escrever o seu livro. Ele está ciente dos obstáculos que terá que superar diante desta fatalidade. A começar pela editora, que em sua maioria, procura sempre publicar livros/autores que tenham um retorno financeiro rápido. Destacam-se aqui os livros considerados de Best Sellers e os de auto-ajuda. Outro obstáculo, e este é o pior, é sobre o que escrever, já que tudo já foi dito pelos escritores do século XX. Escolher o tema, estilo e como narrar são prioridades desse novo escritor, sem desatrelar-se ao fato de que ele também tem que vender o seu livro para sobreviver neste mercado de sonho impossível. Resta-lhe saber se o seu livro terá um leitor. Dizer que o escritor contemporâneo não pensa em também ser um grande escritor de destaque na literatura é uma grande hipocrisia. Ninguém vive somente para a arte. O desejo de todo escritor é ser lido, ser conhecido por sua obra e principalmente ser bem sucedido com ela. Nem que para isso seja preciso tornar-se um escritor medíocre, plagiador sem criatividade ou transformar-se também em um escritor de auto-ajuda e saciar-se desta imensa fatia da Big Apple.
Mas o que importa mesmo? Não é a leitura? Danem-se os estilos. Há preferência para todos os tipos de literatura. E essa diversificação é necessária para que a obra sobreviva ao tempo. Torne-se um clássico. Seja relida. E o novo escritor? Este deve recriar o que já foi escrito com maestria, nova roupagem, transformar um simples fato do cotidiano em arte literária, dizer o inaudito, ser objetivo, claro e utilizar a linguagem que mais se aproxime do leitor. Deve lembrar-se de que este novo leitor é, acima de tudo, o leitor que não tem mais tempo a perder. Destaca-se aqui a importância do contista por ser este estilo o mais lido na contemporaneidade, devido a esta falta de tempo. Leitura rápida com ingredientes de um bom romance, mas em menor proporção. É claro que o autor jamais saberá quem é o seu leitor. Mas sabe que assim como a literatura, só há dois tipos de leitor: o leitor que lê um livro que não lhe passa nada de intelectualidade, que não exige racionalidade para entender a obra e de fácil assimilação, e o leitor que prefere um livro com conteúdo filosófico, que lhe acrescente algo e o faça refletir. Este segundo tipo é raro. São os que sobrevivem de uma boa leitura.
A leitura tem que vir do interesse individual de cada leitor. Formar um leitor também passou a ser prioridade na vida dos educadores. É, ainda na escola, que se dá o primeiro encontro do leitor, ainda não formado, com a obra literária. O mediador dessa transcendência é o professor de literatura. Cabe a ele formar esses novos leitores.  Tarefa árdua e quase impossível, já que ninguém aceita a imposição como forma de adquirir-se algo. Essa rejeição é de caráter universal. Ler Machado de Assis, José de Alencar e outros escritores, considerados, clássicos, com sua linguagem considerada rebuscada, de um português em desuso, e enredos que exigem, no mínimo, um pouco de concentração para poder entender o que se está lendo, faz com que esse leitor-não-formado o rejeite. E esse trauma antiliterário o transforma em, se conseguir a ser, um leitor que entre ler o que é óbvio seja a última alternativa, evite os escritores cujas obras exijam um raciocínio crítico para poder entendê-las. Escritores como Dostoievski, Kafka, Joyce, Camus e Sartre, entre outros, passam a ser cultuados apenas nos meios intelectuais de leitores considerados cultos, para os demais, os leitores que cultuam livros de auto-ajuda e Best Sellers, preferem nem tentar lê-los, deixando-os condenados ao ostracismo.
A necessidade de preservação de obras e autores de valor literário se faz preciso. E neste ínterim o professor de literatura pode ser o mediador e transformar essa rejeição em prazer. Para que isto ocorra é preciso que nas salas de aula, sejam apresentadas para os alunos as obras sem a obrigatoriedade da leitura. Justificar-se pela falta de tempo, por ser moderno, pós-moderno ou contemporâneo, para não ler bons livros e dar prioridade a livros que, de certa forma, são lixos consumíveis, não justifica o mau gosto literário. E neste contexto, estamos cheios deste tipo de leitor que é apenas um analfabeto funcional.

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