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Descrição:
Diário do farol é o relato autoral de um clérigo
amoral e inescrupuloso, que no outono da sua existência resolve inventariar seu
rosário de maldades, perpetradas com requintes extremos desde a infância no
seminário - de início, sob o pretexto de vingar os maus-tratos do pai;
posteriormente, ainda mais sofisticadas, devido ao desprezo de uma mulher.
Auto-exilado numa ilha onde pontifica um farol, o bilioso e mesquinho padre
dialoga com o leitor para provocá-lo com uma realidade na qual não há bem ou
mal, e assim tentar demovê-lo de qualquer noção redentora. Conseguirá? Para
ele, não há transcendência, o Universo nos é indiferente e a todos foi negada
essa Revelação. Não por acaso, o farol de sua ilha chama-se Lúcifer, ´aquele
que detém a Luz´.. O leitor é advertido desde a epígrafe: ´Não se deve confiar
em ninguém´. A vida real é feita de rupturas, exceto para aquela maioria dos
homens que perde a oportunidade de viver de fato por nunca romper com nada
realmente importante, adverte-se. Num testemunho insidioso, que concilia
situações hilariantes com outras de horror repulsivo e escatológico, somente o
cinismo impera. Nisso, põe-se o padre a fazer troça dos ´católicos que
acreditam nas besteiras do catolicismo´ e a manipular todos, fiéis ou
descrentes, para atingir seus fins amorais, chegando à sofisticação de
submeter-se voluntariamente a sessões de tortura para dar vazão a seus
caprichos vingativos. Um mal que - posto em tom neutro como só é possível por
meio de uma arte superior como a literatura - nos permeia a todos e nos leva a
refletir sobre nossa condição social e humana. Um mal na sua essência, que nada
tem de panfletário e denunciador, que encontra solo fértil na sociedade e no
sistema político atuais.
https://www.saraiva.com.br/diario-do-farol-100071.html#
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