LEITURAS
OBRIGATÓRIAS: UM DESAFIO PARA OS PROFESSORES DE LITERATURA EM SALA
DE AULA
teacherginaldo@hotmail.com
Segundo
a revista Conhecimento Prático Literatura (CPL), número 35,
Fevereiro/2011, da editora Escala Educacional, não se pode mais
negar a influência da instituição do vestibular no ensino médio e
com isso, torna-se necessário destacar a importância da leitura de
obras obrigatórias sugeridas para o processo de vestibular.
Essa obrigatoriedade de leitura de livros sugeridos pela própria
instituição, indicando algumas obras, que para eles, merecem ser
destacadas e que se subentende que foram de igual importância para a
formação do aluno, como leitor, muitas vezes não condiz com a
realidade vivenciada por esse aluno. Os motivos são muitos e
variados, mas o que mais se destaca nesse emaranhado prolixo é que
muitas dessas obras não são trabalhadas pelo professor de
literatura em sala de aula, ou quando o faz, é de forma desprazerosa
e sem atrativo nenhum para o aluno. Outros motivos, tais como, a
despreparação do professor de literatura, que não tem o hábito da
leitura, a limitação do aluno para compreender a obra,
identificando o contexto histórico em que está inserida, nem o
período literário, a inter-relação da obra com outra, contribuem
para que o aluno não alcance a proposta esperada da instituição ao
prestar o exame de vestibular.
Neste
sentido, a desculpa se dá pelo fato de que não há tempo hábil na
vida de um estudante de ensino médio para ler os grandes
representantes de nossa Literatura Brasileira. Por outro lado, ao
escolher o livro que deve ser lido, no processo seletivo do
vestibular, a instituição corre o risco de deixar de fora algumas
obras de igual importância para o desenvolvimento intelectual
literário desse aluno. Para a CPL, os livros não mais se dividem
apenas por períodos literários, e sim, é aproveitado tudo o que há
em suas semelhanças e diferenças.
É
preciso, portanto, aproximar o aluno da obra. Neste sentido, o papel
do professor de literatura se destaca como intermediador direto desse
processo. É ele o responsável por essa indicação e até mesmo, na
criação de forma canônica de seu leitor, despertando o interesse,
tanto do clássico como o do contemporâneo. E nesse contexto então,
não ficariam algumas obras também de fora, já que é quase
impossível para que todos os autores e obras sejam estudados e lidos
durante o período letivo?
O
ideal seria, portanto, que o aluno tivesse contato com os livros e
autores referentes a cada escola literária, lendo, produzindo
resenhas, artigos e até mesmo fazer uma crítica abordando e
analisando as características inerentes a cada obra, assim como, seu
contexto, interagindo com a história, discutindo sobre as
personagens e as situações em que são envolvidas.
Transformar
alunos em leitores é, sobretudo, o desafio do professor de
literatura. E o principal objetivo é justamente despertar a paixão
pelo enredo de romances que marcaram época, que foram e ainda são,
importantes para que se conheça o passado, relacionando-o e
comparando-o com a atualidade. Ler uma obra considerada clássica
deve ser tão prazeroso quanto ler uma contemporânea. Autores como
Machado de Assis e José de Alencar são injustiçados quando se
justifica o desinteresse do aluno ao ler uma obra considerada de
difícil compreensão. E o principal argumento desse desinteresse é
justamente a linguagem, quase sempre considerada rebuscada, o que
permite ao aluno de ensino médio se sentir descontextualizado, já
que a falta da leitura o limita por uma questão vocabular.
A
escolha obrigatória dos livros e autores para o vestibular
desconsidera esse detalhe. Subtende-se que o aluno de ensino médio
está preparado para prestar o exame e que leu e estudou as obras
escolhidas. Mero engano. A maioria dos alunos, por falta de tempo
para a leitura, copiam as resenhas de livros via internet ou procuram
sites de literatura com artigos relacionados às obras ao invés de
lê-las. Dessa forma, a leitura do livro na íntegra passa a ser
figurativa, uma metáfora, atendo-se apenas a fragmentos retirados de
resumos, impossibilitando o aluno a ter uma visão geral da obra.
E
como fazer para reverter essa realidade? Como despertar no aluno o
interesse na leitura sem a imposição? Ler é, sobretudo, um prazer
que deve ser apreciado. O interesse deve partir do indivíduo e não
da imposição, e o hábito da leitura independe da obrigatoriedade.
Por outro lado, o professor de literatura deve estar atento ao que
seus alunos estão lendo, para que se possa tirar dessa leitura algo
em que se faça uma inter-relação com o que está ensinando. É
aproveitar o interesse do aluno para poder inserir em suas aulas o
conteúdo programático sem se tornar desinteressante ou cansativo.
Outra
sugestão seria aproveitar filmes adaptados de livros e apresentar
para os alunos, fazendo com que eles após a exibição, debatam,
escrevam um comentário crítico, resenhem e coloquem sua opinião
critica da adaptação em relação à obra, numa análise
comparativa. Este recurso é utilizado pelo professor e o resultado,
para o aluno, é mais satisfatório, porém é preciso ressaltar que
a leitura é mais completa que o filme, por ser impossível
apresentar todo o conteúdo que há no livro, deixando de fora a
riqueza de detalhes da descrição narrativa.
Dessa
forma, o desafio imposto ao professor de literatura na formação de
leitores poderá ser amenizado se houver um comprometimento com o
conteúdo programático, que deve ser ensinado e o que se espera do
aluno em relação ao exame do vestibular, preparando-os de forma
adequada, procurando apresentá-los as obras, transformando a
obrigatoriedade numa nova perspectiva: a do saber e o do descobrir ao
invés do decorar.
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