quinta-feira, 12 de março de 2020

PARA LER...


LEITURAS OBRIGATÓRIAS: UM DESAFIO PARA OS PROFESSORES DE LITERATURA EM SALA DE AULA
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Segundo a revista Conhecimento Prático Literatura (CPL), número 35, Fevereiro/2011, da editora Escala Educacional, não se pode mais negar a influência da instituição do vestibular no ensino médio e com isso, torna-se necessário destacar a importância da leitura de obras obrigatórias sugeridas para o processo de vestibular.
Essa obrigatoriedade de leitura de livros sugeridos pela própria instituição, indicando algumas obras, que para eles, merecem ser destacadas e que se subentende que foram de igual importância para a formação do aluno, como leitor, muitas vezes não condiz com a realidade vivenciada por esse aluno. Os motivos são muitos e variados, mas o que mais se destaca nesse emaranhado prolixo é que muitas dessas obras não são trabalhadas pelo professor de literatura em sala de aula, ou quando o faz, é de forma desprazerosa e sem atrativo nenhum para o aluno. Outros motivos, tais como, a despreparação do professor de literatura, que não tem o hábito da leitura, a limitação do aluno para compreender a obra, identificando o contexto histórico em que está inserida, nem o período literário, a inter-relação da obra com outra, contribuem para que o aluno não alcance a proposta esperada da instituição ao prestar o exame de vestibular.
Neste sentido, a desculpa se dá pelo fato de que não há tempo hábil na vida de um estudante de ensino médio para ler os grandes representantes de nossa Literatura Brasileira. Por outro lado, ao escolher o livro que deve ser lido, no processo seletivo do vestibular, a instituição corre o risco de deixar de fora algumas obras de igual importância para o desenvolvimento intelectual literário desse aluno. Para a CPL, os livros não mais se dividem apenas por períodos literários, e sim, é aproveitado tudo o que há em suas semelhanças e diferenças.
É preciso, portanto, aproximar o aluno da obra. Neste sentido, o papel do professor de literatura se destaca como intermediador direto desse processo. É ele o responsável por essa indicação e até mesmo, na criação de forma canônica de seu leitor, despertando o interesse, tanto do clássico como o do contemporâneo. E nesse contexto então, não ficariam algumas obras também de fora, já que é quase impossível para que todos os autores e obras sejam estudados e lidos durante o período letivo?
O ideal seria, portanto, que o aluno tivesse contato com os livros e autores referentes a cada escola literária, lendo, produzindo resenhas, artigos e até mesmo fazer uma crítica abordando e analisando as características inerentes a cada obra, assim como, seu contexto, interagindo com a história, discutindo sobre as personagens e as situações em que são envolvidas.
Transformar alunos em leitores é, sobretudo, o desafio do professor de literatura. E o principal objetivo é justamente despertar a paixão pelo enredo de romances que marcaram época, que foram e ainda são, importantes para que se conheça o passado, relacionando-o e comparando-o com a atualidade. Ler uma obra considerada clássica deve ser tão prazeroso quanto ler uma contemporânea. Autores como Machado de Assis e José de Alencar são injustiçados quando se justifica o desinteresse do aluno ao ler uma obra considerada de difícil compreensão. E o principal argumento desse desinteresse é justamente a linguagem, quase sempre considerada rebuscada, o que permite ao aluno de ensino médio se sentir descontextualizado, já que a falta da leitura o limita por uma questão vocabular.
A escolha obrigatória dos livros e autores para o vestibular desconsidera esse detalhe. Subtende-se que o aluno de ensino médio está preparado para prestar o exame e que leu e estudou as obras escolhidas. Mero engano. A maioria dos alunos, por falta de tempo para a leitura, copiam as resenhas de livros via internet ou procuram sites de literatura com artigos relacionados às obras ao invés de lê-las. Dessa forma, a leitura do livro na íntegra passa a ser figurativa, uma metáfora, atendo-se apenas a fragmentos retirados de resumos, impossibilitando o aluno a ter uma visão geral da obra.
E como fazer para reverter essa realidade? Como despertar no aluno o interesse na leitura sem a imposição? Ler é, sobretudo, um prazer que deve ser apreciado. O interesse deve partir do indivíduo e não da imposição, e o hábito da leitura independe da obrigatoriedade. Por outro lado, o professor de literatura deve estar atento ao que seus alunos estão lendo, para que se possa tirar dessa leitura algo em que se faça uma inter-relação com o que está ensinando. É aproveitar o interesse do aluno para poder inserir em suas aulas o conteúdo programático sem se tornar desinteressante ou cansativo.
Outra sugestão seria aproveitar filmes adaptados de livros e apresentar para os alunos, fazendo com que eles após a exibição, debatam, escrevam um comentário crítico, resenhem e coloquem sua opinião critica da adaptação em relação à obra, numa análise comparativa. Este recurso é utilizado pelo professor e o resultado, para o aluno, é mais satisfatório, porém é preciso ressaltar que a leitura é mais completa que o filme, por ser impossível apresentar todo o conteúdo que há no livro, deixando de fora a riqueza de detalhes da descrição narrativa.
Dessa forma, o desafio imposto ao professor de literatura na formação de leitores poderá ser amenizado se houver um comprometimento com o conteúdo programático, que deve ser ensinado e o que se espera do aluno em relação ao exame do vestibular, preparando-os de forma adequada, procurando apresentá-los as obras, transformando a obrigatoriedade numa nova perspectiva: a do saber e o do descobrir ao invés do decorar.



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