terça-feira, 6 de agosto de 2019

ANALISANDO O AMOR...

ANÁLISE – SONETO DE FIDELIDADE

Soneto de Fidelidade
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes, “Antologia Poética”, Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, pág. 96.

 O Soneto de Fidelidade é composto de 14 versos distribuídos em dois quartetos e dois tercetos, cujo esquema rítmico é: ABBA/ABBA/CDE/DEC.
Ao optar pelo soneto o autor deixa claro sua ligação com a estética parnasiana, logo pode-se perceber na composição de Vinícius de Moraes o enjambement, também conhecido como encadeamento sintático ou cavalgamento.  Essa característica pode ser notada no primeiro para o segundo verso no primeiro quarteto, assim como do terceiro para o quarto verso, no segundo quarteto; e do primeiro para o segundo verso, no primeiro terceto.
No poema, o eu lírico a partir do título faz alusão à fidelidade, que na extensão do poema jura devoção a esse amor: “De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto”, seja nos momentos de dor, seja nos de alegria.
Ao optar pelo tempo presente Vinícius de Moraes declara-se preparado para desfrutar o amor, a quem promete consagrar a fidelidade que o título menciona e que se encontra supracitada por todo o poema.
Vale destacar que o autor não canta a mulher amada, sua beleza, a graça ou encantamento, ele canta o AMOR que sente. É para o amor que dirige as palavras esplendorosas de seu poema. Por isso, pode-se afirmar que a temática desta produção literária é o AMOR do eu lírico e não o amor real, o vivido. Logo o poema pode ser dividido em duas partes bem distintas: POSIIVO –  animado alegre perceptível na primeira e segunda estrofes – os quartetos – , versos intensos que denotam as promessas como viver, ser atento, encantar,  louvar, contentar, enfim proteger tal sentimento. A segunda é o NEGATIVO –  desconforto,  triste, mudança repentina do estado de ânimo na terceira e quarta estrofes – os tercetos – o clima é  sensação de perda, “ […] a morte, angústia de quem vive”  e acentuada em “ Eu possa lhe dizer do amor ( que tive)” verbo ter no pretérito perfeito: ação no passado e acabada.
Este soneto reitera a personalidade do poeta como ele mesmo se  definia, “tinha um temperamento esfuziante e apaixonado, ondulando em direção à possibilidade de vida e de alegria”. Desse modo compensava a gravidade de suas indagações e a intensidade dolorosa com que se atirava ao prazer e à dor.

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